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domingo, 12 de agosto de 2012

Crianças não vacinadas por opção dos pais aumentam casos de sarampo em São Paulo


Um grupo de pais contrários à imunização coloca em risco a saúde de toda a população

  Thinkstock
Em 2011, foram registrados 26 casos de sarampo no Estado de São Paulo. Cerca de 60% deles entre crianças não vacinadas por opção dos pais, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. O caso ganhou os jornais quando seis bebês menores de 1 ano (a vacina só faz efeito a partir dessa idade) de um berçário do bairro Butantã, na capital paulista, transmitiram a doença para quatro crianças com idades entre cinco e dez anos que não foram imunizadas. O dado é preocupante porque a maioria das famílias que decide não imunizar seus filhos está na classe alta, com fácil acesso a informação. O movimento contra a vacinação, que ganhou até mesmo adeptos de celebridades nos Estados Unidos e na Europa, estaria ganhando força por aqui também?

VEJA TAMBÉM: CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO DA CRIANÇA

Os motivos que levam os pais dessas crianças se negarem a vaciná-las variam, mas envolve, principalmente, doutrinas médicas e o uso de medicamentos alopáticos só em casos de emergências. No entanto, ao deixar de vacinar seu filho, coloca-se em risco a saúde de toda a população. “É muito confortável não vacinar o seu filho quando todas as outras crianças ao redor estão imunizadas. Imagine só se todas as famílias tomassem essa decisão. Eu pergunto a esses pais se seria interessante, então, a gente voltar a ter varíola, sarampo, pólio?”, diz a pediatra e infectologista Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações. 

LEIA TAMBÉM: VACINAÇÃO CAUSA AUTISMO?

Em entrevista exclusiva à CRESCER, Ballalai ressalta que vacinar é um ato de cidadania, direito da criança e dever da família. Confira 

CRESCER: Em 2011, o número de casos de sarampo aumentou, principalmente por causa de alguns pais contrários a imunização. Qual é sua opinião sobre esse tipo de atitude? 
ISABELLA BALLALAI: Os pais precisam entender que têm a obrigação de vacinar seus filhos. Existem dois objetivos ao imunizar a criança: vacinação não protege só aquela pessoa que está sendo vacinada, mas também o seu entorno. Nenhuma vacina é 100% eficaz. No caso da vacina do sarampo, a eficácia é de 95%. Isso quer dizer que de 100 crianças vacinadas, 95 ficam protegidas. Esses 5% vão se acumulando. A gente tem uma cobertura boa no Brasil, não é um problema grave. Mas se 5% da população não se vacina e 5% da população vacinada não fica protegida, a gente continua 10% suscetível. E o sucesso da vacinação depende da cobertura vacinal, do que chamamos de proteção de rebanho. Para eliminar uma doença ou tê-la sob controle, é necessário tal cobertura. 

C: Qual é o motivo que leva os pais a não vacinar seus filhos? 
I.B.:
 No Brasil, felizmente, não temos uma alta incidência de famílias contrárias à vacinação. Antigamente, homeopatas se colocavam contra a imunização. Hoje, a Sociedade Brasileira de Homeopatia afirma que todos os homeopatas têm a obrigação de prescrever as vacinas que fazem parte do Programa Nacional de Imunizações. Se a gente dissesse NÃO para a vacina, ainda morreríamos de varíola, ainda teríamos pólio e sarampo na nossa sociedade, doenças que não temos graças à vacinação. As vacinas que estão nas clínicas privadas protegem cada indivíduo, mas as vacinas da rede pública protegem a sociedade. É um direito da criança e uma obrigação das famílias, pelo menos, aquelas que estão disponíveis no Programa Nacional de Imunizações. Na Europa, o motivo principal foi a publicação de um estudo falso na revista científicaLancet, que afirmava que algumas vacinas poderiam causar autismo. O autor do estudo, Andrew Wakefield, perdeu o registro e está sendo processado criminalmente. Não existe evidência científica, portanto, que comprove tal suspeita. 

C: Você concorda que não vacinar o filho é egoísmo? 
I.B.:
 É exatamente isso. Vacina é uma questão de responsabilidade social, é uma ato de cidadania. Você vacina por você e pelos outros. 

C: Qual deve ser a postura do governo diante desses casos? 
I.B.:
 É super complicado. Não se pode obrigar nem impedir que uma criança frequente a escola porque não está com as vacinas em dia. O que a gente pode fazer é avisar o Conselho Tutelar e tentar resolver isso buscando a saúde da família. 

C: Quais os riscos que os pais que optam por não vacinar impõem ao filho? 
I.B.:
 Simplesmente perder o filho. Todas as doenças imunopreviníveis são capazes de matar. 

C: Você acredita que esse movimento da não-imunização chegou ao Brasil e vai ter a mesma força que no exterior? 
I.B.:
 Não. O Brasil têm excelente adesão à vacinação. A gente tem, sim, alguns casos que preocupam, mas não se compara à situação da Europa, por exemplo, onde não existe cobertura vacinal por conta de famílias que não imunizam as crianças.

Fonte: Bruna Menegueço-Revista Crescer

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